Salvador, 2014


Baianas usam
smartphones enquanto
drones Chineses filmam
a Colina Sagrada
Ciganas sexagenárias ameaçam
turistas com a Doce Morte
O brilho do sol na Baía
abençoa a tarde da Primeira Capital
Subúrbios bucólicos se espalham
pelas vias estreitas
da cidade das ladeiras ancestrais
Orixás dançam
com Santos
nos circuitos do carnaval comercial
Jorge & Zélia observam
a juventude se entorpecer
no mundo sem amanhã
Avenidas e veredas se confundem
em traçados não-euclidianos
No mistério dos quadris generosos
Cores, odores e sabores se misturam
sob a trilha do sotaque cantado
É impossível não retornar
para uma cidade que não saiu de você


- Você não precisa mudar seu guarda roupa, ficar malhadão e comprar um sedã somente porque seus últimos dez anos foram uma sucessão ininterrupta de fracassos amorosos e decisões estúpidas. - ela parecia bastante honesta
- Realmente não vejo motivo.
- Sua ironia é desnecessária. Estamos tendo uma conversa sincera.  - agora parecia um pouco decepcionada
- O que você pretende fazer com o tempo que você tem por aqui?
- Sem filosofia de fantasia medieval, por favor.
- Sério! Estou apenas tentando aproveitar essa merda…
- Se é uma merda, como você mesmo diz, não vale a pena deixar de ser você mesmo para “aproveitar” - falou com o tom professoral que eu uso tanto e odeio ao mesmo tempo.
- Sem filosofia de romance juvenil, por favor.
Faz cerca de dez anos meu último post num blog. Minha pouca produção durante este tempo está em cadernos que sempre estão para ser transcritos e arquivos no Google Docs com trechos de histórias inacabadas, poesias, contos e diálogos curtos. Este blog é uma tentativa de compilar minha pouca produção em um lugar público, e exercitar a arte da escrita, que apesar de em princípio não exigir nada mais que ser alfabetizado, talvez seja a mais complexa das artes conhecidas.
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